sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Aqueles que voltam (conto)

Capítulo 1
Em um beco escuro e úmido da cidade de Nova York nos Estados Unidos, um morador de rua estava deitado em cima de jornais velhos. Havia chovido a pouco, fazia frio, o mendigo batia os dentes de frio. Ele, já com uma idade avançada, sabia que hora ou outra ele não veria mais a luz do sol, sabia que o fim se aproximava.
Pensando nisso, deixa uma lágrima escorrer, não desejava esta vida a ninguém.
O mendigo então pensa alto consigo mesmo.
- Não suporto mais essa vida... Prefiro a morte do que continuar vivendo assim - O morador de rua fecha os olhos e sente uma dor em seu peito e então...
...

Leonard Collins
Eu estava fazendo algumas anotações em meu caderninho pessoal, alguns curiosos passavam vez ou outra, então fecho meu caderno e vou em direção ao Detetive Robert, ele usa uma luva de látex para mexer no corpo.
- A dona da loja ao lado nos chamou pensando que ele havia sido assassinado - dizia sem tirar os olhos do corpo de um morador de rua - mas - ele se levanta e olha para mim - acho que foi causas naturais... Mais um caso inútil, logo vão vir recolher o corpo. Está com fome? - ele tira as luvas - Aqui perto tem um lugar que faz uns donuts fantásticos.
- Você não tem que ficar pra passar o relatório...?
- Meu assistente pode cuidar disso - ele aponta para um rapaz magrelo de óculos que fazia anotações em um caderninho - Ei Jeremy! - Robert grita para o rapaz, que leva um susto - Fique aqui, vou pegar uns depoimentos do pessoal aqui perto - Jeremy fez sinal positivo com o dedo e deu um sorriso idiota - Viu só? Está tudo sob controle.
- Você se aproveita do pobre rapaz. - digo.
- Ué, ele precisa ganhar experiência pra se dar bem futuramente - ele diz dando de ombros.
Chegamos em uma lanchonete, Robert comia um donuts enquanto mexia em seu celular. Uma garçonete bem bonitinha chega em nossa mesa oferecendo café, mas ela estava mais dando mole para meu parceiro, que nem notou.
- Mais café senhor?
- Não obrigado - Robert nem olha para moça - Olha isso Leonard - ele entrega o celular dele para mim.
A garçonete sai toda sem graça.
O celular estava em uma página de notícias da Internet, nela mostrava a foto de uma mulher que havia sido estuprada e depois morta a facadas.
- Tá o que tem de mais? - então vejo que tem um vídeo, na descrição dizia que a mesma mulher havia saindo do necrotério viva como se nada tivesse acontecido. Dou play, e o vídeo eram imagens da câmera de segurança do hospital. A mulher estava nua e cambaleava pelos corredores, um segurança a encontra e logo em seguida vem uma enfermeira. Aparentemente ela não tinha nenhuma marca no corpo, isso que era o mais estranho.
- Isso sim é um caso interessante de se investigar - Robert diz depois de beber o resto de seu café.
- Aonde foi isso? - pergunto enquanto assistia o vídeo mais uma vez.
- Foi na Rússia, pelo que eu li em outros sites.
O celular de Robert começa a tocar, no contato mostrava o nome de Jeremy.
- Seu assistente está ligando - entrego o telefone a ele.
- Alô... espera... como? - Robert estava surpreso com algo, ele afasta o telefone da orelha e diz - Jeremy disse que o mendigo tá vivo!
- Como? - digo mais alto chamando atenção da lanchonete toda.
- Ele disse que estavam levando... Espera Jeremy, não estou falando com você - ele afasta telefone - ... ele disse que estavam levando o corpo dentro daqueles sacos, sabe? - faço que sim com a cabeça - E aí, do nada, ele começou a se debater. Quando abriram, ele saiu xingando todo mundo e tudo mais. Jeremy prendeu o cara pra que eu vá lá dar uma olhada.
- Então vamos lá...
- Você não tem outros casos para cuidar? 
- Até tenho, mas estou curioso. - digo.
Voltamos para o local. Onde até então tinha um morador de rua morto, agora havia uma ambulância, e um dos médicos estava ouvindo os batimentos cardíacos do homem que estava algemado junto a maçaneta do carro de Robert. Saímos do meu carro, Robert saiu rapidamente e foi até seu assistente.
Nós fazemos algumas perguntas ao mendigo. Perguntamos se ele foi agredido na noite anterior, se ele havia consumido alguma bebida alcoólica ou até mesmo algum tipo de droga. Ele nega tudo, impaciente, mas precisamos do depoimento dele, mesmo que não tenha acontecido explicitamente algum tipo de crime. Queríamos entender o que realmente estava acontecendo.
- Precisamos que o senhor faça alguns exames para investigar mais sobre o caso - Robert diz.
- Muleque, eu já disse que estou perfeitamente bem. Sou velho, mas não estou morto - diz o velho mendigo.
- Robert, deixa eu falar com ele a sós - disse Jeremy. Ele estava sério, Robert levanta uma sobrancelha intrigado com o tom sério do ajudante.
- Tem certeza? - Robert disse em um tom sarcástico, o ajudante fez que sim com a cabeça.
Deixamos o rapaz com o mendigo, ele fica alguns minutos conversando com o velho. Jeremy, por fim tira as algemas do velho, os dois vem andando em nossa direção. Enquanto trocamos olhares confusos, o jovem assistente diz que o velho iria colaborar com tudo que precisássemos, o velho dá de ombros. Robert e seu assistente o conduzem até a ambulância, eles falam com um dos médicos, o velho entra na ambulância sem questionar e os dois voltam.
- O que você disse a ele - pergunto a Jeremy - digo, o que disse ao velho?
- Falei que quando terminasse tudo eu pagaria algumas bebidas e tal... 
- Hahahaha... tá aprendendo rápido - Robert dá soco de leve do ombro de Jeremy - ganhou uns créditos comigo!
- Algum problema? - disse o assistente.
- Bom... é  que... primeiro li aquela notícia da mulher russa que voltou a vida, e agora isso... - eu balanço a cabeça para afastar os pensamentos - Esquece, deve ser coincidência.
- Vamos meu amigo, chega de pensar nisso agora - disse Robert.
Lanna Smith
- Mais uma vez - Dexter diz - 5, 6, 7, 8... Esquerda, gira, agora chão... Vamos David, isso... e parou! - ele sorri para todos - Está perfeito, galera, sério!
- Acho que vai ser a melhor coreografia que iremos apresentar - David diz -  Só preciso de mais alguns ensaios para pegar direito...
- Relaxa, você voltou agora para o grupo - digo colocando a mão em seu ombro - Não precisa... - então olho pra ele e me censuro a terminar o que iria dizer - ... quer saber, vamos combinar uns ensaios extras, quem quiser é só falar - olho para o resto da turma que logo entende.
- Ah, sério mesmo Lanna, vamos marcar sim - David diz empolgado - Você concorda com ensaio extra, Dexter?
- Irmão, você é o líder do grupo - Dexter se junta a nós - Eu apenas fiz uma substituição temporária!
- Então eu lhe nomeio o gerente - diz David e todos caem no riso.
Logo após o ensaio vou até minha casa rapidamente, Dexter me acompanha.
Conversamos sobre o campeonato que se aproximava e da coreografia que iríamos usar. Ficamos falando de outras besteiras, chegamos em meu pequeno apartamento de 4 cômodos, não era lá grandes coisas, mas era o suficiente para mim. Depois que cheguei em Londres tudo ficou tão perfeito, Dexter me ajudou muito, conseguiu até um emprego na confeitaria dos pais para mim. Ele foi um ótimo amigo, e agora ele é um ótimo namorado.
Subimos alguns degraus até o meu apartamento, pego minhas chaves, quando vou coloca- la no trinco da porta, Dexter me impede.
- A porta está aberta - ele diz em meu ouvido, eu nem havia notado, então olho e a porta estava apenas encostada - Deixa que eu vou na frente... sem  discussões! - ele reage antes que eu o contrariasse. Ele então pega uma vassoura que estava próxima a porta, pede para que eu entre devagar, abro um pouco mais a porta e quando entro...
- SURPRESA! - todos meus amigos estavam lá, uns segurando balões coloridos, outros com chapéus de aniversário e outros segurando pratos com salgadinhos e doces, todos cantando "parabéns pra você" não muito sincronizado.
- Mas... Eu... como vocês... - começo a abraçar cada um - como chegaram tão rápido? E como prepararam tudo isso?
- Dexter emprestou a cópia dele - disse Carol, ela havia pintado os cabelos de rosa, quase que não a reconheci - Peter e eu faltamos ao ensaio pra organizar tudo aqui, e emprestou sua Van para pegar o pessoal logo que você saísse do ensaio.
- Vocês são os melhores! - digo enquanto pegava um salgadinho - melhor aniversário!
Ficamos todos conversando e rindo por um bom tempo, até que Theo, primo de Dexter vem até mim perguntando se eu tinha algum remédio para dor de cabeça. Vou até o banheiro e procuro em uma caixinha onde guardava remédios e coisas para fazer curativos. Theo aparece na porta do banheiro, entrego um comprimido, ele o coloca na boca e logo em seguida bebe um gole de suco de laranja.
- Se não estiver se sentindo bem vá para casa - disse a ele - não vou ficar chateada...
- Não, estou bem, é só uma dorzinha de nada.
- Tudo bem então - pego sua mão e o conduzo para junto a mim e Dexter, ficamos lá conversando.
Carol e Peter vem até mim.
- Lanna, você tem algum kit para curativo, esse tonto cortou o dedo na faca - diz Carol rindo da cara de Peter.
- Tem uma caixinha na pia do banheiro - olho para mão de Peter, e tinha um pequeno corte no dedo indicador esquerdo - ei, cuidado para não pingar sangue no chão.
Carol vai até o banheiro com Peter para fazer o curativo. Olho para Théo, ele sua bastante pelo rosto, começo a ficar preocupada. Dexter e os outros também percebem, ele insiste em dizer que está bem, mas é fácil notar que a situação era ao contrário. Théo não gostava de ser o Centro das atenções exceto em nossas apresentações, não gostava de ficar enchendo os outros com seus problemas, era sempre divertido e gostava de animar o ambiente, mas hoje estava diferente...
O nariz de Theo começa a escorrer sangue, ele tenta dizer algo e então cai no chão se debatendo, mas todos se desesperam mais quando ouvem o grito de Carol.
Peter havia desmaiado.
Uma hora tudo estava tudo tão alegre, todos se divertindo e de repente tudo muda e se torna uma situação desesperadora.
- Gente, não to sentindo a pulsação de Peter - ela começa a chorar - Alguém chame a ambulância... rápido.
Todos estavam agitados, alguns vizinhos apareceram na porta, inclusive Alexander, que era um vizinho novo e fazia faculdade de Medicina quase concluindo o curso, e ele se manifesta a ajudar.
Ouvimos um grito, mais uma vez Carol, ela sa correndo do banheiro.
- Peter... ele... tentou - ela não consegue dizer, não depois do que veio depois.
Peter sai do banheiro, mas tinha algo de diferente. Sseus olhos estavam completamente pretos e escorria sangue deles, era uma típica cena de filme de terror, só que agora era real, terrivelmente real.
Alguém gritou sobre a mão dele, nem consegui identificar quem foi, só olho sua mão direita, era assustador, parecia ter se deformado transformando-a em um tipo de tentáculo bizarro. Carol vomita ao meu lado e Peter começa a caminhar lentamente em nossa direção até que ele para e começa a olhar na direção de onde Theo estava caído, embora não estava mais se debatendo.
- Ele abriu os olhos... Theo, você está... - Dexter não diz mais nada, só se afasta. Todos olham para Theo. Seus olhos azuis começaram a escurecer, sua íris começou a crescer, sangue escorria dos seus olhos.
Todos tentam se afastar, mas meu apartamento é pequeno, impossibilitando qualquer movimentação e para piorar, tinha vizinhos curiosos na porta. Grito para que saíam da porta, mas eles insistem em ficar ali.
A atenção se volta para Theo, que agora balançava a cabeça enlouquecidamente, até que ele para e solta um grito agudo atordoando a todos, exceto Peter.
Algo mais bizarro acontece, no ouvido esquerdo de Theo começa a sair uma coisa esquisita como um tipo de gosma rosada, mas não chega a pingar no chão, sua cabeça parecia pulsar, a gosma cobre metade do seu rosto e fica borbulhando. Ouço alguém vomitando. Então uma bolha na gosma estoura espalhando sangue para todo lado, aquilo é a motivação para que as pessoas na porta saíssem correndo. Peter estende seu braço, ou melhor, o tentáculo bizarro, uma mão surge na ponta e se estica. Aquilo vai direto para o peito de Carol e violentamente a atravessa.
Todos saem gritando.
Alguns vão pela escada, vira uma massa de pessoas tentando fugir daquilo. Uns tropeçam e acabam sendo pisoteado por outros, Dexter e eu vamos até a janela do corredor onde havia uma escada de emergência.
Tenho a brilhante ideia de olhar para trás, e vejo Theo abrir uma boca monstruosa e arrancar metade do braço de Alexander. Começo a chorar, estava assustada e sem entender o que estava acontecendo. Dexter grita para que eu continue correndo.
Abro a janela e já pulo para fora, mas quando Dexter começa a passar por ela, algo se enrola em sua barriga, o puxa violentamente e só ouço seus grito.
- Fuja Lanna...
Dexter se fora, agora eu estava sozinha. Dou uma última olhada pela janela e vejo Theo correndo em minha direção, só tenho tempo de sair correndo escadas abaixo.
Não sabia o que realmente estava acontecendo, mas aquilo só significava uma coisa.
O fim se aproximava.
...
Próximo do apartamento onde acontecia o estranho incidente, um homem de terno e óculos escuro observava tudo, ele segurava uma maleta preta de couro. O homem pega seu celular e faz uma ligação.
- Foi dado o ponto de partida - disse o homem misterioso - para onde devo ir? Entendido.
O homem desliga o telefone, e dá mais uma olhada no prédio. Ele vê uma garota descendo as escadas de emergência com pressa, mas então algo sai da janela e a alcança. Várias pessoas começam a gritar na rua, a coisa pega garota e abre uma boca gigante e abocanha sua cabeça. O homem despreocupado se vira ajeitando seus óculos no rosto, entra em um carro preto que logo se afasta do caos.

Texto: Valdir Henrique 
Revisão: Déh Soares 

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